Como eu tinha dito no post “10 mulheres e uma pesquisa”, a pesquisa não pode parar! Sendo assim, mais um fim de semana foi dedicado ao trabalho de campo, mas desta vez não descemos o rio madeira, fomos pela estrada. Nossa pesquisa se dá em dois locais, sendo um a comunidade ribeirinha e o outro um assentamento. Desta vez fomos visitar o Assentamento Joana D’arc III. Diga-se de passagem, é o local onde se dará a minha pesquisa de mestrado.
Pois bem, o intuito dessa visita virar um post é justamente para dar a visão de uma realidade totalmente diferente da minha realidade, e acredito que diferente da realidade de muitos que podem ler esse texto, afinal todos devem ter acesso a muitos benefícios e tecnologias que esses assentados não têm.
A começar pelo acesso. Estrada em péssimas condições. O que deveria ser feito em uma hora, levamos quatro pra chegar. A estrada na época de chuva vira lama e na época da falta de chuva vira uma poeira só. É uma verdadeira vergonha! Como pode ser tão perto da capital e tão distante de tudo.
Não sei se para nosso azar calhou de irmos no período de chuva. Em alguns trechos da estrada a lama era tanta que se tornava quase impossível passar e como era de se esperar o ônibus em que estávamos atolou. O jeito foi descer e ajudar de alguma forma. Não sei se também foi bom ou não, mas atrás de nosso ônibus estava um carro da TV globo de jornalismo indo fazer uma reportagem a respeito justamente da educação nos assentamentos. Indo falar a respeito de como anda as aulas dos alunos. E se deparou com nosso ônibus atolado. Pra eles deve ter sido excelente nos encontrar atolados na estrada, afinal é a realidade dos alunos. Enfrentar estradas em péssimas condições para chegar à escola.
Em segundo falar sobre a saúde. Ou seria a falta dela? Simplesmente não há sequer um posto de saúde para atender essas pessoas. Segundo informações colhidas por uma moradora, não há posto de atendimento e quando o médico aparece, ele costuma ficar em outro assentamento, distante desse em que eu me encontrava. Ou seja, se alguém passar mal e der a sorte do médico se encontrar no outro assentamento, ainda tem dar o jeito e tentar chegar até lá.
O INCRA é o órgão responsável pela doação das terras para essas pessoas. Mas ai penso: Do que adianta o ser humano ter a terra se ele tende a acabar saindo dessa terra pela falta de tudo. Ou quando não morre por lá mesmo. A impressão que me fica que é uma forma do governo excluir essas pessoas. Doa-se uma terra bem distante de tudo depois fica sendo o que Deus quiser.
Se na cidade já é ruim o acesso a tudo, imagina lá onde não há quase nada. As pessoas são carentes de tudo! E quando falo tudo, é tudo o que você possa imaginar. Saúde, educação, moradias em boas condições, saneamento, lazer.
Vi homens e mulheres que fazem do seu dia a dia uma luta de sobrevivência, e mesmo assim se sentem agradecidos por estarem morando em um lugar que supostamente é deles. Falo supostamente por que segundo eles, ainda não possuem o documento expedido pelo INCRA dando a posse.
No dia de nossa visita apareceu por lá o Secretário de agricultura e representantes de vários órgãos falando bonito e prometendo fazer e acontecer. Eu espero sinceramente que essas promessas não sejam apenas promessas.
E já que acabei falando de promessas, ontem ao entrar no facebook, vejo um post onde aparece o Sr Governado deste Estado falando justamente das melhorias das estradas para ajudar a vida do produtor rural. Ah! Tenha a santa paciência. E ainda alguns baba ovo dando coro as palavras. O governo não faz mais do que a obrigação. Ao invés de fazer festa chamando a imprensa para mostrar projeto, deveria agilizar os trabalhos e depois sim mostrar o serviço pronto. Com certeza na frente da casa dele e dos demais governantes não falta asfalto e quando passam mal devem até ter médico indo fazer visita em casa.
Quando eu disse que o intuito era demonstrar a diferença entre as realidades, eu quis demonstrar o quanto nós em uma grande parte do tempo, somos egoístas e sempre estamos achando que nada está bom. Que nossas vidas estão chatas, que não ganhamos o suficiente, que nossas casas não são equipadas dos melhores aparelhos eletrônicos. Estamos sempre querendo mais. Não estou criticando, apenas quero dizer que é olhando para fora do nosso mundo é que somos capazes de ver que há pessoas que vivem com muito menos e que necessitam de muito mais do que nós desejamos.
Devo ir a Joana D’arc III muitas outras vezes e sei que sempre voltarei com a cabeça diferente da que fui.
Música: Admirável gado novo – Zé Ramalho