sexta-feira, 18 de novembro de 2011

QUIETUDE


Não sei se fui eu que deixei de falar ou se foi você que deixou de me ouvir.
As palavras sumiram. Tornaram-se meras coadjuvantes de uma história sem rumo.
Não sinto mais o pulsar e a velocidade das frases antes ditas com fervor e intensidade.
Hoje apenas o silêncio me faz companhia. Mostrando-me que o tempo passa, deixando quase sempre marcas que aos poucos se tornam experiências.
Não tentarei falar. Não tentarei fazer com que você me ouça. Não!
Apenas ficarei quieta, e quem sabe um dia as coisas se encaixem, se ajeitem, de forma que eu pensarei que tudo voltou a sua normalidade. Que poderei novamente olhar o horizonte e acreditar em dias melhores, dias felizes.
Deixe-me em silêncio!
Uma hora passa, uma hora prometo que volto a falar e quem sabe você também volte a me ouvir.
E ai então prometo que volto a sorrir.

Escrito em uma noite envolta por pensamentos e leituras...
Obs: não se trata de desabafo, são apenas as palavras me fazendo devanear sobre a escrita.

domingo, 4 de setembro de 2011

POVO PAITER: UMA EXPERIÊNCIA ÚNICA!


Aqui estou novamente. Agosto foi um mês bem intenso!! Um dos mais intensos até então. Afinal em apenas um mês posso dizer que em quase todos os fins de semana estive realizando trabalho de campo. E todos em lugares diferentes. Assentamento, comunidade ribeirinha e aldeia indígena. De todos o que mais me impressionou foi a ida a aldeia. Talvez pelo fato de nunca ter ido a uma, talvez por conta da cultura diferente ou talvez a soma de todos acrescentados de magia e sensações únicas.
Como sempre costumo relatar em meus post`s quando falo de trabalho de campo, que nunca volto igual quando viajo para os lugares onde realizo pesquisas, e a ida para a aldeia não foi diferente. Ou melhor, foi, pois ela me proporcionou sensações que meu espírito estava precisando. Eu sinto que jamais conseguiria descrever a experiência que tive durante os dias que estive na aldeia Apoena Meireles dos índios Suruí. Mas como havia prometido no post anterior que estaria relatando, então aqui estou para fazê-lo. Falar dos dias que participei da festa MAPÍMAÍ.
Eu poderia descrever dia por dia, pois as lembranças ainda estão bem recentes em minha mente, mas acho que o melhor é falar do que senti e do que meus olhos puderam perceber.
O povo suruí é um povo alegre. Vi alegria. A todo o momento eles riam. Nós também rimos muito. A alegria estava no ar. Vi coisas que não tenho visto nas grandes cidades, tais como compartilhamento, união, respeito pelo próximo, valorização dos mais velhos, dentre outras observações. Vi também muito afeto entre eles.  
Fomos muito bem recebidos. Lá não tínhamos a sofisticação que temos na cidade, mas nos sentimos em casa. O tempo era algo que não tinha tanta importância.  Nada de relógio, celular, internet, nada da correria, horários para isso, ou para aquilo. Lá compreendi a frase: “o tempo não existe.” Isso é fato! Tanto que no terceiro dia em um determinando momento eu tive que perguntar que dia era da semana. É uma coisa de louco, mas é engraçado como somos regidos a horários. Temos hora pra tudo!
Por se tratar de uma festa, houve vários momentos tradicionais que diziam respeito ao andamento da festa. Participei de praticamente todos. Apenas não participei dos rituais ocorridos nas madrugadas. Todos os participantes sendo índio ou branco foram pintados. A tinta deles é feita de jenipapo, e após a secagem ela demora de 10 a 20 dias para sair da pele. Segundo eles, se a pessoa for ciumenta demora mais a sair. Por conta da pintura, fui parada algumas vezes aqui na cidade para responder se ela era uma tatuagem fixa. As pessoas se impressionavam com a pintura. Além da pintura, participamos também da dança e bebemos a bebida deles. Confesso que esta parte foi a mais difícil para mim, pois a bebida que eles chamam de "chicha" tem um cheiro e um gosto muito forte. Apenas experimentei, já que estava lá, não podia fazer desfeita.
Eu só tenho a agradecer ao povo suruí , em especial a Almir Suruí por nos permitir ter vivenciado os dias que estivemos lá e pela experiência de vida. Esta com certeza contarei a todos que desejarem saber como é estar em uma aldeia. Voltei com energias revigoradas. Carregada de emoções e com a certeza que há pessoas boas no mundo.
Como disse anteriormente, não sou capaz de descrever em palavras o que vivenciei, mas me sinto inebriada de alegria em ter visto que uma etnia luta por sua sobrevivência e por continuar sua cultura.
Conversei com alguns jovens, e o que vi foi o orgulho em ser índio. Orgulho de ser quem é.
As experiências e relatos durante os dias na aldeia serão transformados em trabalhos e se tudo de certo, em um livro.
Para finalizar, perguntei a um índio como se escrevia na língua deles a frase: “Eu estou feliz com a experiência que tive!” E ele me respondeu: “Oêh adé kuya inter e peitxá la de ka oeithá ka é”.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

EXPECTATIVAS DE MAIS UM TRABALHO DE CAMPO...


      Mais uma vez venho aqui relatar a vida de uma mestranda… 
    Daqui a algumas horas estarei indo fazer mais um trabalho de campo.  Como estou sem sono resolvi compartilhar as minhas expectativas.
    Desta vez não será em um assentamento ou em uma comunidade ribeirinha. Será em uma aldeia indígena. Lugar onde nunca estive, e que nunca pensei que um dia estaria. Mas como a vida é uma caixinha de surpresa sempre há de se experimentar o desconhecido.
    Esta semana não foi das melhores para mim no quesito saúde. Mas uma vez a gripe me pegou e com ela a asma que me atormenta... Confesso que por conta dela fiquei em dúvida se deveria ir ou não para a aldeia. Mas hoje a tarde decidi que tinha que ir, afinal não é todo dia que se tem uma oportunidade de conhecer uma aldeia indígena, levando-se em conta o acesso, e a aceitação dos indígenas em nos receber. 
   Estou indo por conta de uma das disciplinas que optei em fazer no mestrado. Junto comigo estarão indo mais 07 colegas da disciplina e o professor. Fora nós da universidade estarão outros órgãos, KANINDÉ e FUNASA.
   Não sabemos como será lá e o que nos espera. Até então só soubemos que assistiremos a um ritual de passagem durante os dias que passaremos lá.  
   Espero voltar com experiências de vida e com muitas histórias para contar. Afinal vivenciar o dia a dia de uma etnia diferente da nossa com certeza faz com que qualquer um volte com um outro olhar a respeito da vida e do mundo.  
   Tenho tirado muito proveito das experiências que tenho obtido por conta do mestrado. Com certeza são ensinamentos que me fazem crescer como pessoa. Sempre pensando no próximo como alguém que assim como eu deseja um mundo melhor e sem tantas diferenças.
   Prometo que assim que voltar compartilho a experiência aqui... Até porque estamos indo fazer pesquisa e se tudo sair como o planejamento, futuramente lançar um livro.
   Até a volta!!...

Hoje é o dia do Historiador. Ou seja, hoje é o meu dia! \o/  Profissão que eu escolhi e não me arrependo.  
“O que seria de um povo sem a sua história?”

Para escutar uma música de ENYA (Perdi as contas da quantidade de vezes que escutei esta música nessa semana): 


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE!!!

     Hoje de fato começou o segundo do semestre do mestrado. Aula pela manhã com a minha adorável orientadora que já nos passou zilhões de leituras. Confesso que fiquei assustada..(rsrs) e a tarde iniciei meu estágio de docência na graduação. Pela primeira vez entrei novamente em uma sala de aula da Universidade que um dia fui aluna. O diferente foi que hoje ao invés de apenas escutar e discutir o texto indicado, tive que sentar lá na frente (lugar do professor) e explicar o texto. Não estava sozinha, junto comigo estavam, a minha orientadora e uma colega de mestrado que também está fazendo o estágio.  A aula foi ministrada pelas três. Mesmo assim o nervosismo se fez presente. Sei que é bobeira, que não tenho motivos para tal, mas isso vai além do meu querer. Sempre fico bastante apreensiva ao ter que falar em público, sendo ele pequeno ou grande. Sei que isso é algo que tenho que trabalhar. A grande maioria das pessoas que convivem comigo dizem que transpareço ser descolada, que não aparento ficar nervosa ao falar em público. Ledo engano!! (rsrs) Mas que bom que ao menos não transpareço o meu nervosismo. Mas hoje acho que ele foi notado. Mas também sei que ao longo das aulas isso passará, afinal a primeira vez sempre dá aquele frio na barriga e nos deixa com a sensação que não vamos dar conta, mas no fim tudo acaba bem...Além do mais, entrar naquela sala de aula foi como uma volta no tempo. Por quantos anos não passei pela frente daquelas salas, sem imaginar que um dia entraria, mas não mais como aluna de graduação, mas sim como uma futura mestra!
     Junto com as aulas do mestrado e da graduação o ritmo do semestre começou com força total. Na primeira semana do mês já fizemos uma viagem de campo para Joana D’arc novamente, e desta vez foi extremamente cansativa. Um pneu do ônibus estourado, outro furou, calor insuportável e muita poeira. Mesmo assim foi muito boa a visita. Pois foi possível fazer uma ação social junto com outros órgãos governamentais  junto a comunidade. Sempre há o que se aprender em uma viagem de campo, até mesmo quando ela é cansativa e demorada.
     Neste próximo fim de semana outra viagem de campo será realizada, mas desta vez eu juntamente com outras pesquisadoras estaremos indo para o nosso outro lócus de pesquisa. Iremos descer o rio madeira novamente. Retornaremos a Nazaré depois de 6 meses. Sinto que será uma boa viagem, afinal é sempre bom se desligar um pouco do agito da cidade grande. Mas não estarei indo descansar e sim pesquisar, mas sempre dá pra unir o útil ao agradável. Como disse na primeira viagem que fiz para lá... ” indo recarregar as minhas energias." E estou precisando mesmo para dar conta da quantidade de atividades que este semestre promete. Assistir aula, fazer estágio, co-orientar, escrever artigos, iniciar a dissertação, ler muito mais, viagens de campo, viagens para apresentar trabalhos, reuniões do grupo de pesquisa, reuniões do colegiado do mestrado e assim vai, sempre aparece algo mais para ser feito!
     Hoje foi um dia cansativo, mas estou com a sensação de dever cumprido. Uma sensação de que estou fazendo algo que me faz bem.  Meu corpo pede cama, mas não posso me dar ao luxo de ir deitar e dormir, afinal como um professor da UFPE nos informou durante a sua palestra: “Mestrando não dorme! Você conhece um mestrando pelas olheiras!” Eu diria pelo cansaço, já que graças a Deus posso ficar mais de 24 horas acordada como já fiz algumas vezes e não ficar com olheiras. Tenho que agradecer todo santo dia essa benção... (rsrs). E já que não posso dormir o jeito é ler e tentar finalizar um artigo.
     Tenho andado distaste de meus amigos, e sinto falta de todos. Mas sei também que o meu silêncio assim como o meu sumiço me fará chegar onde pretendo. Vou filosofar um pouquinho: “estou em alto mar à procura do tesouro, ocorre que o mar anda muito agitado, mas prometo que assim que o mar se acalmar, eu atraco no porto e procuro vocês.”

 Fernando Pessoa falando por mim: 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu.

Música: Someone Like You - Adele (simplismente linda!)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

OS CAMINHOS DA PESQUISA


A pesquisa tem me proporcionado vivenciar um mundo novo. Mundo até então desconhecido por mim. Novo no sentindo de que agora não vejo mais os lugares e as imagens como simples paisagens. Vejo com olhos que antes não me pertenciam. É como se somente agora eu conseguisse enxergar. Enxergar detalhes que antes eram despercebidos.
Pesquisar não somente tem me proporcionado conhecimento científico. Pesquisar vai além, pois tem me proporcionado conhecimento pessoal. E vejo isso como o principal norteador. É ir além do que está obvio, é saber trilhar os caminhos que são indicados de uma forma que se eu fechar os olhos saberei exatamente quem sou e onde estou.
Pesquisar tem me feito ter vontades que antes não se faziam presentes em minha vida. Até podiam fazer, mas eram tão vagas, tão distantes que é como se de fato não existissem.
Se desprender do que nos é comum, e nos aventurar no desconhecido é um exercício de aprendizagem. As viagens que tenho feito ao longo deste ano aos assentamentos, estão me enriquecendo de conhecimento e experiências.
Sempre retorno com indagações e questionamentos. Muito mais questionamentos internos. Questionamentos da minha vida. E uma pergunta que sempre me faço é: como podemos reclamar tanto? Sempre acho que os meus problemas por mais que sejam considerados algumas vezes sérios e que me tiram o sono e me atormentam, são pequenos perto da dimensão de necessidades daquelas famílias. São famílias que há anos lutam por direitos, lutam por melhorias, por reconhecimento. Pessoas que se sentem largadas e esquecidas pelo governo. Do que adianta ganharem um pedaço de terra, se não terão condições de plantio, moradia, educação e saúde. Condições tão mínimas, que para nós é quase impossível nos imaginar morando em um lugar sem elas. Mas existem sim pessoas que sobrevivem em lugares assim. E ai me vem uma frase já velha, mas sempre muito atual: “poucos com muito e muitos com tão pouco.”
Sei que as minhas observações ainda são primárias, muito ainda tenho que observar. Há a idéia de ir a campo e passar mais dias, no intuito de vivenciar um pouco mais que seja o dia a dia dessas famílias.  
Estou em processo de finalização de semestre. E sinto-me extremamente agraciada e gratificada com tudo que li, ouvi e vivenciei. Sei que o caminho ainda é longo, mas o importante é que estou tentando caminhar observando tudo e todos e desejando chegar ao final do caminho com uma bagagem que com certeza me fará sentir orgulho de ser uma pesquisadora.

obs: a foto foi tirada por mim em viagem a campo no Assentamento rural Joana D'arc III. É um pé de açaí.

Frase: "Pesquisar é ver o que os outros viram, e pensar o que nenhum outro pensou." (Albert Szent Gyorgyi)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

APRENDENDO A DIZER NÃO...



   Recentemente vivenciei uma situação onde a palavra NÃO foi de extrema necessidade.  A experiência não é minha, mas vivenciei pelo fato da convivência. E lembrei que há meses atrás havia iniciado um texto a respeito desse bloqueio em dizer NÃO. E resolvi retomá-lo e finalmente torná-lo público.

   Pois bem, irei falar de como dizer “não” muitas vezes se faz necessário. De como essa simples palavra de três letras pode ter tanto poder.
  Já percebeu que muitas vezes nos vemos presos a situações, pessoas, histórias que ao invés de fazer bem, só fazem mal? Isso sempre ocorre! Comigo, com você, com aqueles que estão ao nosso redor. E ai nos perguntamos: porquê dizer não é tão difícil?
   O primeiro obstáculo é justamente achar que ao dizer não perderemos algo, ou seremos excluídos, esquecidos, rejeitados. Mas se formos analisar nada disso de fato acontece se formos conscientes que o não é apenas uma forma de afirmar sua opinião. Assim como ninguém é obrigado a nos aceitar, também não somos obrigados a aceitar o que nos é imposto como regra.
   Exercite se colocar em primeiro lugar, em ser um pouco egoísta. Porque não? Aprenda a dizer: Não posso; Não quero; Não vou; Não insista.
  Você não precisa ser social e dizer sim toda vez apenas para agradar e ser agradável. Não!
   Não se prenda a histórias falidas achando que ao dizer não você perderá sua identidade.  Aprenda que a sua identidade não é construída por conta de um relacionamento, por conta de uma amizade. Mas sim por conta de um conjunto de coisas, situações, momentos e pessoas.
  Ultimamente tenho exercitado muito o “Não Posso!” em virtude do que propus para a minha vida. Às vezes a vontade é de dizer SIM, mas porque dizer sim agora, sabendo que ele poderá ter uma conseqüência mais na frente que me fará ter arrependimentos? Posso está sendo egoísta, mas não tenho me preocupado com isso. Sei que aqueles que me amam, entendem todos os meus “nãos”. Com isso não me preocupo em agradar Gregos e Troianos.
   Aprendi que primeiramente vem o que é importante para mim e depois o que é importante para os outros. Do que adianta eu colocar o que é importante para os outros se eu não estiver bem com tal situação.
   Sendo assim é preciso dizer NÃO muitas e muitas vezes, tendo a certeza que sua essência não mudará da água para o vinho por conta disso.
    Fica a dica...

"Nunca sofra por não ser uma coisa ou por sê-la." (Clarice Lispector) 


sexta-feira, 20 de maio de 2011

SILÊNCIO



Hoje ninguém me viu. Também não vi ninguém!
O dia passou depressa. Parecia querer logo terminar a sua jornada.
A noite chegou também muito apressada. Passou tão rapidamente que quando me dei conta já era madrugada.
A televisão não foi ligada, o computador não foi usado, a porta não foi aberta, a cama não foi desfeita. Nada foi modificado.
Apenas o silêncio se fez presente. Esse ao contrário do dia e da noite, passou lentamente e permaneceu durante todo o tempo.
Houve horas em que ele parecia não querer permanecer, mais ficou! Fazendo-me companhia.
Não o ouvi, nem o vi, mas ele estava o tempo todo presente.
A madrugada chega e com ela vou deitar. Tentar sonhar os sonhos que acordada não é possível.
A madrugada será bem mais rápida que o dia e a noite. Em um piscar de olhos ela terá ido embora também, e novamente o dia se fará presente, menos silencioso, mas não menos apressado.

escrito em um domingo silencioso...